O domínio do “Algo Mais”: uma ampliação do modelo de Coaching Ontológico

Não poderia começar a escrever sobre um quarto domínio do Coaching Ontológico, a que fui apresentada recentemente e é objeto da coluna este mês; sem declarar a alegria que sinto ao inaugurar esse espaço que pretende trazer aos leitores um pouco das novidades e dos conceitos dessa disciplina. Segundo a Associação Brasileira de Coaching Ontológico Profissional (ABCOP), “O Coaching Ontológico é um processo de acompanhamento e aprendizagem transformacional, baseado no modelo de observação, ação e resultado, que engloba os domínios linguístico, emocional e corporal do ser humano. Essa aprendizagem integral representa uma transformação na nossa maneira de ser, de interpretar e de habitar o mundo, possibilitando novas ações e resultados inéditos.” E é disso de que vamos tratar por aqui!
Conheci a Master Coach Olga Suárez e sua proposta de evolução do modelo conhecido de Coaching Ontológico, no Congresso de Coaching Corporal organizado este ano pelas empresas argentinas Centro de Desarollo Humano e Efecto Butterfly. De cara, me impressionei com o conceito, tão simples quanto profundo, estruturado por anos de prática de Olga, não só como Coach Ontológica mas como formadora de coaches, atualmente como diretora da Inspira - Coaching para la Integración. “Algo mais” é como ela intitula esse quarto domínio, que envolve os conhecidos corpo, emoção e linguagem. Em sua descrição, trata-se de uma distinção energética que dá conta de tudo aquilo que está além do que se define como corpo, emoção e linguagem propriamente ditos, ao mesmo tempo em que está integrado a esse trio.
“Algo mais” está, portanto, relacionado a uma dimensão mais sutil onde se observam fenômenos que não são passíveis de uma explicação concreta e objetiva. No entanto, mesmo sem certezas acerca do que ocorre, sabe-se que o ocorrido afeta sobremaneira o viver e o conviver. Olga começou a elaborar esse pensamento a partir de suas próprias experiências e observações ainda na formação, concluída em 1996 com os mestres Júlio Olalla e Rafael Echeverria. Seguiu apoiada nesse aprendizado teórico e prático, revestida do desejo de contribuir continuamente com processos transformadores em todos os âmbitos do viver e do conviver humano. “Como todo conhecimento, também o Coaching pode e deve evoluir a partir da observação e da contribuição de seus profissionais”, declara.
Neste quarto domínio, nomeado de “Algo mais”, Olga enumera três aspectos constitutivos: Percepção ampliada, Intuição e Ressonância, que serão definidos resumidamente a seguir.
A Percepção ampliada é um tipo de percepção que transcende aquela que acontece a partir dos cinco sentidos humanos. Normalmente, cada um de nós entra em contato com a realidade primeiramente através dos sentidos conhecidos como tato, paladar, visão, audição e olfato, percebendo e observando a vida. A percepção ampliada vai além dessa em que utilizamos os sentidos. É como ver algo sem depender dos olhos. Tem a ver, por exemplo, com o campo que se forma a partir das interações humanas onde diferentes fenômenos são percebidos, independentemente dos órgãos responsáveis por cada um dos cinco sentidos. Ao distinguir e estar atento ao que percebemos em qualquer experiência, nos abrimos à possibilidade de ampliar, expandir e aprofundar a percepção inicial no set de coaching. “Em diferentes programas e cursos de coaching que coordeno, treinamos a percepção ampliada integrada às sete competências definidas pela Associação Argentina de Coaching Ontológico Profissional e pelas escolas credenciadas. Assim, podemos comprovar o valor que agrega à prática profissional através do testemunho de alunos e de coaches formados”, explica.
Já a Intuição, refere-se à habilidade de captar uma ideia ou sensação que ocorre dentro de cada um de nós sem intervenção da razão. Júlio Olalla define a intuição como “tudo aquilo que sabemos sem saber como sabemos. O que me passa em contato com o espaço intuitivo é que vejo ali um saber que me leva mais para o caminho da sabedoria do que para o lado do conhecimento. A intuição nos ajuda a ler num livro o que não está escrito pela mão humana”.
Olga alerta que a intuição não deve ser acompanhada de certezas, pelo risco de ser considerada como verdade absoluta, deixando de ser uma ampliação da forma como observamos a realidade.
A Ressonância refere-se à possibilidade, já comprovada pela física, que uma onda ou vibração de energia tem de afetar outro corpo com o seu movimento. Pode-se dizer que é a capacidade de uma frequência de onda de impactar, conectar e modificar outra frequência. Pode-se observar a ressonância em instrumentos musicais, como, por exemplo, quando uma corda faz vibrar uma outra depois de ser dedilhada. É aquilo que cada conexão ou conversa faz movimentar dentro de todos nós.
O importante mesmo, ressalta Olga, não é o fenômeno que nos ocorre mas o que fazemos com eles. Por isso, ela enaltece a prática do coaching como a grande apuradora do “Algo mais”. O desenvolvimento nesse domínio acelera e aprofunda os processos abrindo novos campos para que a informação circule. “Considerando-se o sutil, pode-se contribuir de forma mais efetiva com o coachee, necessitando de menos palavras e permitindo que alguns nós ou impasses sejam solucionados mais rapidamente”, afirma.
Talvez, toda essa apresentação tivesse me passado despercebida, não fosse minha conexão imediata com o tema. Mesmo sem distinguir esse domínio, nunca deixei de considerá-lo em meu trabalho como coach. Aliás, devo confessar que a entrevista com Olga foi pontuada de muita emoção e cheia do “Algo mais” que ocorre num espaço de conversas profundas.